terça-feira, 4 de novembro de 2008

cheaper by the dozen.

Passaram exactamente 12 anos desde que o meu pai morreu. Céus, tanto tempo...!
É tão estranho... Francamente estranho, não estou triste. Não preciso de um abraço. Não preciso de um conforto. Nem sequer penso nele. Sinto apenas como que uma estranha sensação de "habituação". Isto é, já me acostumei a não o ter por cá. Já me habituei a não chamar por ele, a não lhe pedir para sair, a não o abraçar, a não ser protegida por ele. É como se ele nunca tivesse existido, nem nunca tivesse feito falta. Nem sabem o quão horrível é, saber que devia estar triste, desolada, inconsolável, e estar tão habituada a estar assim, que já parece que nem sinto nada.


A única coisa que sinto, além da "habituação", é talvez um vazio. Mas sinceramente, um vazio nem sei de quê. Já comprovei que não é preenchível com comida, porque estes dois dias seguidos de super-hiper-mega-compulsões de cinco em cinco minutos [sem exagerar] não serviram para nada.

Disse a várias pessoas que dia foi hoje, mas não me senti melhor! Não me fizeram sentir melhor nem pior, fiquei na mesma, impávida e serena, completamente normal, como sempre. Acho que no fundo, o que eu queria era que essas pessoas se sentissem tristes, que tivessem saudades dele, que chorassem por ele, porque eu não o fiz. E nem consigo.

Hoje, foi a missa de "aniversário da morte". Como todos os anos, lá fui eu. Nem sequer me comovi. Apenas senti uma ligeira pena de mim, porque não pude disfrutar do meu pai, como a maior parte das crianças. Mas só me detive a pensar nisso durante uns segundos mesmo com a minha avó paterna ao meu lado a chorar.
A verdade é que me senti como se estivesse numa outra dimensão: Num sítio estranho, com pessoas estranhas, a viver uma vida que não é a minha.
Sim, foi exactamente isso que senti.



Acho que à dúzia é mais barato.

7 comentários:

Mina disse...

Olha, acho que isso é normal. Sim, sente-se como sendo estranho ou errado, mas é normal. Quando eu tinha 10 anos perdi a pessoa que basicamente sempre foi o que o meu pai nunca foi (e que só me lembro que o "meu" pai existe porque ele não nos deixa em paz, porque de resto é um estranho). Passado uns anos, um dia qualquer reparei que já não me lembrava da voz dele e entrei em pânico.

Hoje, que já passaram 10 anos, finalmente já não desato a chorar nem nada do género quando penso nele - e penso nele todos os dias. E sinceramente, sinto-me feliz com isso. Aposto que era o que ele queria. É impossível uma pessoa que te amava preferir que sofresses por ele.

**

p.s.1: quanto às calças: NÃO TE DEIXES ENGANAR! Simplesmente aos 11 eu já tinha o mesmo corpo que aos 15; só as uso para conseguir medir a distância do meu corpo antes/após maternidade --'

p.s.2: então e esse Halloween? O meu foi mais que LAME.

Barbie ♥ disse...

Mas ter ao pai ao lado nem sempre significa que vc vai ter um abraço, um conforto, um carinho.
Posso dizer isso por mim mesma. Meu pai está lá pra me dizer "não" quando eu quero sair à noite e também pra me dar dinheiro quando eu tenho que pagar a escola, essas coisas...
Às vezes sinto um vazio, acredito que diferente do que vc sente. Mas não quero isso pra mim agora. Digo, demonstrações de afeto, cesci sem isso, seria no mínimo constrangedor agora.
Eu sei que tenho que amar o meu pai. E não vou odiá-lo por ser ausente e superprotetor ao mesmo tempo. Não por isso.
Mas o amor que sinto por ele (sei que tenho que amá-lo) é diferente - e muito - do amor que sinto pela minha mãe, por exemplo.
Não sei explicar.
Estou retribuindo a visita, gostei muito do seu blog.
Fica bem.
Beeijo;*

Lollipop disse...

Queria saber o que dizer, mas sinceramente não consigo pensar em nada.
Eu sei que vazio é esse. Perdi pessoas não porque elas morreram mas simplesmente porque voltamos costas e mesmo assim não consigo chorar a sua partida. Parece que as lagrimas se embrulham umas às outras e não chegam aos olhos.
É... estranho.
Love

capri disse...

linda,
isso é normal. passados alguns anos aprendemos a viver sem essa pessoa, também acredito que o teu pai não iria gostar de te ver a sofrer tantos anos. a vida continua para quem fica, não nos podemos culpar por isso.

privatizei o meu blog, mas não sei para onde te mandar o convite. diz-me qualquer coisa para c.ap.r.i@hotmail.com

beijinhos

Ophelia disse...

oi... sou nova por aqui, mas nao pude deixar de ler o teu post.. lamento pelo teu pai, nao sei o que é perder ninguem demasiado importante para mim felizmente... mas hoje tbm faz 4 anos que perdi o meu avô e quando chorei na morte dele não foi por ele mas pelas pessoas que eu sabia que ele ia faltar, a minha mãe e mais 7 irmãos... =/ chorava pq tinha medo do que podia acontecer depois e não pq nunca mais o iria ver...
claro que isto não é comparável ao sentimento de vazio que sentes.. mas talvez esse vazio seja (inconscientemente) a falta dele, e como está longe à 12 anos a dor atenua e fica um vazio e uma saudade lá longe porque não podemos ter saudades daquilo que já lá vai =/

=) bjinho desculpa a invasão...

força!

Stranger disse...

perdi meu irmao faz 4 anos e meu avõ faz 5 anos... e eu sinto o mesmo...
nem triste nem nada...
VAZIO
é bem o que define...
sabe
mas eu ainda choro... ainda dói... lembrar de alguns amigos que partiram...
mas, Freud explica: eu nunca pertenci a esta fammilia... sabe... sempre fui excluida... a aberração da familia...
sempre riram da minha dor...

phoda

Anónimo disse...

Não sei o que é não ter pai...
Apenas como que se não tivesse mãe.

Não sei que dizer...

[Gosto dos postsecret's que usaste :)]

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